De 9 a 13 de junho, a Aldeia Nova Vila, na Terra Indígena Maxakali (Bertópolis-MG), será palco da I Pré-Jornada da Teia dos Povos com o tema “Reflorestar o Território Tikmũ’ũn”. O encontro é organizado pelo Projeto Hãmhi - Terra Viva e pela Teia dos Povos, e reunirá indígenas, quilombolas, camponeses e aliados em uma ação coletiva de reflorestamento e valorização das práticas culturais tradicionais do povo Tikmũ’ũn.
Entre as presenças confirmadas estão representantes do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), como o Dr. Paulo César Vicente Lima, coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Apoio Comunitário, Inclusão e Mobilização Sociais (CAO-Cimos), e a promotora Dra. Nelma Matos Silva, que atua na regional de Teófilo Otoni.
A jornada ocorre em um território marcado pela resistência. A Terra Indígena Maxakali abriga o povo Tikmũ’ũn, que enfrenta os impactos severos das mudanças climáticas em uma das regiões do Brasil que mais registraram aumento de temperatura nos últimos anos, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Cercados por um território devastado pelo capim e com o limitado à água limpa e a espaços de cultivo, os Maxakali têm respondido com o que chamam de “reflorestamento com memória”: um processo de cura da terra por meio do plantio de árvores nativas, da valorização de seus rituais, cantos e da circulação de sementes tradicionais.
Programação
A programação começa na segunda-feira (9) com a chegada e acolhimento dos grupos participantes. Na terça-feira (10), após uma abertura com cantos tradicionais, será realizada uma roda de conversa entre representantes de diversos territórios e a preparação do mutirão de plantio.
À tarde, as mulheres lideram o plantio do jardim de cura e debatem métodos ancestrais de cuidado, enquanto outros participantes seguem no reflorestamento. À noite, será exibido o documentário “Zona de Sacrifício, Território de Resistência”, seguido de histórias ao redor da fogueira.
Na quarta-feira (11), o mutirão segue com conversas sobre plantas medicinais e o papel dos mestres na recuperação do território. Temas como o fortalecimento dos povos da região e o enfrentamento ao uso abusivo de álcool também serão discutidos. A noite será marcada pela exibição do premiado filme “Nũhũ yãgmũ yõg hãm: essa terra é nossa”.
A quinta-feira (12) será dedicada ao intercâmbio de sementes crioulas, com trocas entre guardiões e coletoras de diversas regiões. O mutirão continua à tarde e, à noite, será exibido o documentário “Assentamento Terra Vista”. O dia se encerra com uma roda de conversa entre pajés e mulheres sobre cura e alimentação.
Na sexta-feira (13), os participantes se despedem após o café da manhã, levando consigo sementes, histórias e compromissos com a terra e a vida coletiva. A Pré-Jornada é um chamado à ação coletiva por justiça ambiental, soberania dos povos e pelo reflorestamento com memória, afeto e resistência.
Os Tikmũ’ũn-Maxakali
O povo Tikmũ’ũn-Maxakali soma cerca de 2,6 mil pessoas, distribuídas em quatro territórios indígenas no nordeste de Minas Gerais: Água Boa (Santa Helena de Minas), Pradinho (Bertópolis), Aldeia Verde (Ladainha), Cachoeirinha e Aldeia-Escola Floresta (Teófilo Otoni).
Vivem em situação de extrema vulnerabilidade, marcada por insegurança alimentar, falta de água potável e altos índices de mortalidade infantil — consequências diretas do desmatamento, da desigualdade socioambiental e do racismo estrutural.
Desde 2023, o Projeto Hãmhi – Terra Viva atua na região com ações de reflorestamento, agroecologia e valorização da cultura Tikmũ’ũn. Já foram restaurados mais de 156 hectares de Mata Atlântica e implantados 60 hectares de quintais agroflorestais. Além disso, o projeto forma agentes agroflorestais e viveiristas indígenas, unindo ciência, tradição e cuidado com o território.