BRASÍLIA — O general Paulo Sérgio Nogueira se irritou com o próprio advogado durante interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10). Réu por participação na tentativa de golpe de Estado, o ministro de Jair Bolsonaro (PL) reclamou de perguntas dirigidas a ele pelo criminalista perto do encerramento de suas declarações.

Antes das questões apresentadas pelo advogado, Paulo Sérgio Nogueira respondeu às perguntas do relator Alexandre de Moraes, do ministro Luiz Fux e do procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco.

A indisposição começou na primeira pergunta de Farias. “General, só para esclarecer, consta na denúncia da Procuradoria-Geral da República que, nessa reunião do dia 14, o senhor…”, iniciava quando o general o interrompeu. “Vai me perguntar sobre a reunião, cara?”. O advogado prossegue, e é interrompido novamente pelo militar. “Andrew, eu já respondi tudo isso ao presidente, nobre ministro Alexandre de Moraes”, disse. 

A indisposição seguiu. O general até responde à pergunta seguinte feita pelo advogado, mas, encerra a série de questionamentos com uma alfinetada. “Só para informar aqui a pedido do advogado… Você não combinou comigo, hein. Mas, tudo bem. Era só isso, presidente”, disse Paulo Sérgio Nogueira, cortando as questões. A conclusão arrancou risadas dos presentes.

Paulo Sérgio Nogueira diz que alertou sobre gravidade de estado de defesa

O ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, afirmouque alertou Jair Bolsonaro, àquela altura ainda presidente, sobre as consequências de decretar medidas de exceção como estado de Defesa e estado de sítio. O encontro entre eles ocorreu após o segundo turno da eleição, em uma reunião no dia 7 de dezembro, da qual também participaram os então comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Marinha, Almir Garnier.

“Depois da reunião, cheguei até o presidente com o general Freire Gomes alertando sobre a seriedade, a gravidade, se ele estivesse pensando em estado de Defesa ou de sítio”, declarou Paulo Sérgio no interrogatório com o relator, ministro Alexandre de Moraes, nesta terça-feira.

“A gente conversava ali em uma tempestade de ideias sobre as consequências de uma ação futura que eu imaginava que poderia acontecer se a evolução das coisas fosse em frente…”, prosseguiu. O assunto só retornou à pauta sete dias depois, em 14 de dezembro, quando o general pediu uma reunião com os comandantes das três Forças. 

Paulo Sérgio disse ao STF que esse último encontro representou um ponto de encerramento das discussões sobre medidas de exceção após a derrota de Bolsonaro para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele afirmou ainda que, nesses sete dias que transcorreram entre um encontro e outro, temeu uma fissura nas Forças Armadas — que, nesse ínterim, foi atropelada pela carta golpista de oficiais dirigidas ao comando do Exército. “Fiquei preocupado a partir da carta ao comandante do Exército Brasileiro. Temia uma fissura”, disse Paulo Sérgio.


“Minha responsabilidade naquela momento era fechar consenso, fechar questão. (A reunião do dia 14) foi a pá de cal, que não teria nada, e não teve. A partir dali ninguém falou mais nada. A reunião do dia 14 foi para fechar questão e não tocar mais no assunto”, completou. “No dia seguinte, eu me reuni com o presidente da República. Falei com ele: ‘presidente, não se fala mais isso, homem’”, acrescentou.

Ex-ministro de Bolsonaro pediu desculpas por críticas ao TSE

O ex-ministro também pediu desculpas publicamente por sua fala durante reunião ministerial, divulgada em vídeo, em que ele critica a Justiça eleitoral, durante interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele é réu na ação penal do suposto plano de golpe de Estado. "Queria me desculpar publicamente por ter feito essas colocações naquele dia (...) em que eu trato com palavras inadequadas o trabalho do TSE", declarou o militar.

"Foram palavras mal colocadas, chamar, dar a entender de chamar o TSE de inimigo, isso jamais, em tempo algum, E depois as coisa melhoraram sensivelmente. (...) A assunção de vossa excelência à presidência do TSE facilitou minha vida", acrescentou, ao ministro Alexandre de Moraes.

Ele também negou que o ex-presidente Jair Bolsonaro tenha pressionado por mudanças no relatório realizado por técnicos do Ministério da Defesa sobre fiscalização nas urnas eletrônicas.

O presidente da República jamais me pressionou a mudar o relatório só para o segundo turno, seja para alterar o relatório. É o que me deixa de cabeça quente. Esse relatório é o que o técnico assinou", destacou o ex-ministro da Defesa. 

Nogueira é o quinto réu a depor no segundo dia de interrogatórios dos integrantes do chamado “núcleo 1” ou “núcleo crucial” da suposta trama golpista contra Lula. Antes deles, falam o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), o almirante Almir Garnier (ex-comandante da Marinha) e Anderson Torres (ex-ministro da Justiça e Segurança Pública).

Os interrogatórios acontecem na sala de sessões da Primeira Turma do STF. O núcleo 1 tem oito réus, incluindo Bolsonaro. Os depoimentos começaram na segunda-feira (9), quando falaram o tenente-coronel Mauro Cid (ex-ajudante de ordens da Presidência) e o deputado federal Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin).

A Primeira Turma julga a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Baseada em investigação da PF, ela diz que o grupo encabeçado por Bolsonaro teve papel central na tentativa de ruptura institucional. A denúncia foi aceita pelo STF em março. 

Os réus respondem por tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, tentativa de golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem chegar a 43 anos de prisão.